Mortes de pessoas com menos de 60 anos por Covid registra crescimento
O percentual de pacientes com até 60 anos mortos por Covid no Brasil registrou em janeiro sua primeira alta em quase um ano de pandemia, e, embora esse aumento seja discreto, ele acende um alerta para os mais jovens —em geral, fora da faixa etária de maior risco para a doença. Na média, 1 a cada 4 mortos pela doença no país tem 60 anos ou menos, embora essa proporção tenha oscilado ao longo do tempo e possa estar relacionada à lotação dos hospitais e ao acesso à saúde. No total, o país contabiliza quase 250 mil óbitos.
Em abril de 2020, quando pouco se sabia sobre possíveis tratamentos e muitos estados tentavam abrir hospitais de campanha e leitos de UTI, os pacientes com até 60 anos eram 32% dos mortos (1 a cada 3). Esse percentual foi caindo com o passar dos meses, atingindo 23,1% em novembro e dezembro, segundo dados do Ministério da Saúde.
Em janeiro, pela primeira vez, a proporção cresceu, ainda que moderadamente: chegou a 24,9%, na esteira do avanço do número de casos, aumento de mortes e lotação de hospitais em alguns estados. O crescimento da mortalidade nessa faixa etária, considerada de menor risco para a doença, não é regra, mas pode ser observada em locais onde houve aumento de casos e da ocupação dos leitos hospitalares, como Amazonas, Maranhão e Sergipe.
“Existem alguns fatores de risco para a letalidade, a idade é um deles. Quando começa a morrer muito jovem, entendemos que é uma parcela que não precisaria estar morrendo. Isso acontece porque as condições ideais de assistência não estavam disponíveis”, diz Jaques Sztajnbok, médico intensivista e supervisor da UTI do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo.
O caso mais expressivo é o do Amazonas, onde 40,4% dos mortos pela doença em janeiro tinham 60 anos ou menos. Para efeito de comparação, em novembro, mês com menor número de óbitos no estado, a faixa etária respondia por 29,5% das vítimas da Covid.
No mês passado, o sistema de saúde amazonense entrou em colapso, com fila de espera para leitos, desabastecimento de oxigênio nos hospitais e explosão de mortes. “Em Manaus, vimos gente de 20 anos, 30 anos, morrendo. São pessoas cuja chance de sobrevivência na UTI é maior, mas não foram para UTI, morreram por falta de oxigênio”, afirma Sztajnbok.
O Brasil tem gargalos na chamada vigilância genômica, feita a partir do sequenciamento de amostras, o que dificulta o entendimento do que levou à nova crise no Amazonas. A variante amazonense do coronavírus, tida como um dos fatores possivelmente responsáveis pela recente explosão de casos no estado e conhecida como P.1, foi identificada pela primeira vez no Japão, em amostras de japoneses vindos do Amazonas. Só depois a Fiocruz confirmou sua ocorrência no Brasil.
Não há, portanto, dados que permitam avaliar se a nova variante afeta a população mais jovem de maneira mais letal. O que cientistas supõem, com base na semelhança da mutação amazonense com as variantes britânica e sul-africana, é que a variante tenha maior potencial de contaminação, aumentando o número de casos de maneira mais rápida e levando mais pessoas aos hospitais.
A circulação e o surgimento de novas variantes com alto potencial infeccioso, portanto, podem impulsionar a pandemia e lotar leitos de UTI, agravando a situação do país e possivelmente aumentando a proporção de vítimas jovens. Até o momento, a faixa etária mais afetada pela Covid-19 é a de maiores de 70 anos, que responde por apenas 7,5% da população, mas representa 50,7% dos mortos pela doença. Aqueles com 60 ou menos, por sua vez, são 25,6% dos óbitos pelo coronavírus, embora representem 85% dos brasileiros.
Estados do Norte, que têm menos leitos de UTIs distribuídos regionalmente (no Amazonas, por exemplo, só há UTI em Manaus) e estrutura de saúde em geral mais precária, têm percentuais maiores de mortos com até 60 anos. Em Roraima e Rondônia, são 38% e 37% dos óbitos, respectivamente. No Sul e Sudeste, por sua vez, onde há mais médicos, leitos e hospitais, há menos óbitos de pessoas nessa faixa etária. Os estados com a menor proporção são Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com 20% e 21%, respectivamente.
FOLHAPRESS
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